segunda-feira, 7 de abril de 2014

O CEMITÉRIO DE PRAGA


O Cemitério de Praga
 
 

Durante o século XIX, entre Turim, Palermo e Paris, encontramos uma satanista histérica, um abade que morre duas vezes, alguns cadáveres num esgoto parisiense, um garibaldino que se chamava Ippolito Nievo, desaparecido no mar nas proximidades do Stromboli, o falso bordereau de Dreyfus para a embaixada alemã, o aumento gradual daquela falsificação conhecida como Os Protocolos dos Sábios Anciãos de Sião, que inspirará a Hitler os campos de extermínio, jesuítas que tramam contra os maçons, maçons, carbonários e mazzinianos que estrangulam os padres com as suas próprias tripas, um Garibaldi artrítico com as pernas tortas, os planos dos serviços secretos piemonteses, franceses, prussianos e russos, os massacres numa Paris da Comuna em que se comem os ratos, golpes de punhal, horrendas e fétidas reuniões por parte de criminosos que entre os vapores do absinto planeiam explosões e revoltas de rua, barbas falsas, falsos notários, testamentos enganosos, irmandades diabólicas e missas negras.   Óptimo material para um romance-folhetim de estilo oitocentista, para mais, ilustrado com os feuilletons daquela época. Há aqui do que contentar o pior dos leitores. Salvo um pormenor. Excepto o protagonista, todos os outros personagens deste romance existiram realmente e fizeram aquilo que fizeram. E até o protagonista faz coisas que foram verdadeiramente feitas, salvo que faz muitas que provavelmente tiveram autores diferentes. Mas quem sabe, quando alguém se movimenta entre serviços secretos, agentes duplos, oficiais traidores e eclesiásticos pecadores, tudo pode acontecer. Até que o único personagem inventado desta história seja o mais verdadeiro de todos, e se assemelhe muitíssimo aos outros que estão ainda entre nós.

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